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Entrevista

Vinício Martinez

Professor da UFSCar analisa como as Big Techs se tornaram protagonistas do poder global, transformando dados e atenção humana no centro do capitalismo digital. Nesse contexto, surge o tecnofascismo, forma de dominação que atua por meio de plataformas e algoritmos, internalizando controle e moldando comportamentos sob aparência de liberdade. Essa lógica aprofunda o fascismo histórico ao torná-lo difuso, cotidiano e voluntariamente reproduzido.

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Sobre

Vinício Carrilho Martinez é professor titular do Departamento de Educação da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), onde coordenou o Programa de Pós-Graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade (2020-2022). Foi professor colaborador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), em Marília, e também atuou no Programa de Mestrado em Direito.

Possui graduação em Direito e em Ciências Sociais pela Unesp; mestrados em Educação (Unesp) e em Direito (Faculdade Estadual de Direito do Norte Pioneiro); doutorados em Educação (USP) e em Ciências Sociais (Unesp); e pós-doutorados em Educação e em Ciências Sociais pela Unesp.

Sua pesquisa concentra-se em Direitos Humanos, Educação e Sociedade, Ciências Políticas e Teorias do Estado. É autor de livros como “Sociedade e Educação” (2025), “Teorias do Estado: Estado Moderno e Estado de Direito” (2025), "Necrofascismo" (2021) e “O Conceito de Carta Política na Constituição Federal de 1988” (2021). Seu canal no YouTube é: https://youtube.com/@ACienciadaCF88.

FCW Cultura Científica – Professor Vinício, gostaria de começar com uma imagem já famosa. Mark Zuckerberg, Jeff Bezos, Elon Musk, Sundar Pichai e vários outros chefes das Big Techs que dominam a tecnologia e a comunicação pela internet, todos reunidos em volta do presidente norte-americano Donald Trump em sua segunda posse. Essa proximidade entre o Vale do Silício e a Casa Branca não ocorreu no primeiro mandato de Trump. O que mudou e o que isso representa? Como compreender essa relação entre infraestrutura tecnológica e controle da informação?


Vinício Martinez – A segunda posse de Trump evidenciou que as grandes empresas de tecnologia se tornaram uma força determinante por trás do governo norte-americano – e, em certa medida, da política global. Vale lembrar como essa dinâmica começou. Quando se falava em “globalização” ou “capitalismo globalizado”, o que se estabeleceu foi uma produção em escala planetária: partes fabricadas em diferentes países e depois reunidas sob uma mesma marca. Essa lógica industrial e comercial se consolidou e, durante muito tempo, moldou o capitalismo contemporâneo.


O novo governo Trump, ao impor tarifas e restrições a diversos países, acabou revelando as fragilidades desse modelo, mas também reforçou o poder das corporações que controlam as infraestruturas digitais e de comunicação.


As Big Techs já estavam presentes no primeiro mandato, mas agora atuam com muito mais visibilidade – ao lado da poderosa indústria do entretenimento, que migrou progressivamente para as redes. O que antes era um poder mais difuso, associado ao chamado deep state (o “Estado profundo”, que operava nos bastidores), hoje se manifesta de forma aberta. O que Pierre Lévy denominou “Estado-plataforma” – um poder exercido por meio das redes e da informação – tornou-se uma realidade visível e dominante.


É interessante observar a própria mudança de perspectiva de Lévy. Nos anos 1990, ele via nas redes digitais uma promessa de inteligência coletiva e de comunicação livre, não submetida aos filtros dos meios tradicionais, como rádio, TV ou jornal. Mas, com o surgimento das redes sociais no século 21, ficou claro que essa utopia não se concretizaria. As plataformas se tornaram mecanismos de controle e vigilância – às vezes operando de forma tão profunda que nem temos plena consciência de seus limites e alcances.


A presença das Big Techs na posse de Trump simboliza isso: o poder dessas empresas deixou de ser invisível. Ele agora é ostensivo, midiático, visível – inclusive em imagens e gestos. É o retrato de uma nova configuração de poder global.


FCW Cultura Científica – O que é o capitalismo digital e como ele se relaciona com o tecnofascismo?


Vinício Martinez – O capitalismo digital é a atualização do próprio capitalismo, que se move da produção material para a produção de dados – da mercadoria física para a mercadoria informacional. O dado humano – nossas ações, desejos, medos e rotinas – passa a ser o centro da acumulação de valor. Trata-se de um processo em que o humano se torna objeto de exploração total, não mais apenas como força de trabalho, mas como fonte permanente de informação e vigilância.


O tecnofascismo é o desdobramento político e cultural dessa lógica. Ele consiste na colonização do sujeito pela técnica, na transformação da tecnologia em instrumento de dominação totalizante. O que antes era a violência explícita dos regimes autoritários agora se apresenta sob a forma da adesão voluntária. O fascismo contemporâneo é técnico e digital porque se realiza por meio das plataformas, dos algoritmos e das redes que moldam o comportamento humano. O tecnofascismo é o fascismo do algoritmo, o fascismo do “like”, o fascismo do controle sedutor. Ele se disfarça de liberdade, mas opera como vigilância permanente — como controle da subjetividade.


FCW Cultura Científica – Em seu “Ensaio sobre capitalismo digital e tecnofascismo”, o senhor afirma que a dominação tecnofascista é mais profunda do que o fascismo histórico. Por quê?


Vinício Martinez – O fascismo clássico dependia da coerção e da violência direta: polícia, Estado, censura, campo de concentração. No tecnofascismo, a dominação é internalizada. Ela se torna difusa, invisível e cotidiana. O sujeito acredita estar agindo livremente, mas age dentro de uma arquitetura de controle projetada por algoritmos e sistemas automatizados.


O tecnofascismo não precisa calar, porque a própria lógica digital já define o que é visível e o que desaparece. O controle não é imposto de fora – ele se dá de dentro, pela adesão ao sistema. Cada gesto, cada clique, cada palavra digitada é informação que alimenta a máquina de vigilância. O fascismo digital é mais eficiente porque elimina a resistência antes mesmo que ela surja. Ele nos torna cúmplices do nosso próprio aprisionamento, produzindo uma subjetividade conformada à lógica técnica e ao discurso da eficiência.


FCW Cultura Científica – Como as plataformas digitais e as grandes corporações tecnológicas participam dessa nova forma de poder?


Vinício Martinez – As Big Techs – Google, Meta, Amazon, Apple, Microsoft e outras – constituem o núcleo do capitalismo digital. Elas controlam a infraestrutura da comunicação global e se configuram como novos impérios. Não são apenas empresas, mas estruturas de poder que ultrapassam fronteiras e legislações. Essas corporações privatizaram a esfera pública, transformando a comunicação humana em negócio. O capital digital extrai valor do tempo, da atenção e da emoção. É o capitalismo da vigilância e da extração psíquica. O que se compra e se vende não é apenas o consumo, mas o comportamento.


O tecnofascismo emerge quando essas plataformas passam a mediar a vida social e política. Elas não apenas registram o que fazemos: orientam o que devemos desejar, amar, temer ou odiar. Ao criar filtros e algoritmos que definem a visibilidade, determinam também o horizonte do possível.


FCW Cultura Científica – Em outro artigo, o senhor usa o termo “Metafascismo”. O que significa uma única empresa ser dona do Facebook, do Instagram e do WhatsApp – cada um usado por mais de 3 bilhões de pessoas? O que representa um poder como esse, concentrado nas Big Techs, também em termos políticos, ao influenciar governos e decisões?


Vinício Martinez – O termo “Metafascismo” é uma provocação. Ele faz referência direta à empresa Meta, mas também à ideia de um poder que ultrapassa todas as “metas” possíveis de controle. Estamos diante de algo inédito na história: um nível de poder e vigilância que supera qualquer distopia imaginada, inclusive as de George Orwell


A escolha do termo joga com essa dupla dimensão – meta como empresa e meta como aquilo que ultrapassa limites: um controle totalitário em escala planetária. Quanto mais pessoas mergulham nesse ecossistema digital, mais ele se retroalimenta. O algoritmo funciona como um organismo vivo, que se nutre da própria interação e dependência dos usuários.


Hoje, a vida cotidiana tornou-se quase impossível sem algum tipo de vínculo com essas plataformas. Mesmo quem não utiliza todas elas certamente está em uma delas. O WhatsApp, por exemplo, é praticamente indispensável nas comunicações pessoais e profissionais. Essa onipresença tecnológica é o que torna o controle tão profundo e naturalizado.


FCW Cultura Científica – Além de o poder estar concentrado em poucas empresas, ele está nas mãos de dois países: Estados Unidos e China. A tecnologia se tornou uma arma política?


Vinício Martinez – Sem dúvida. A tecnologia passou a ser um campo de disputa política e geopolítica entre as grandes potências. As chamadas “guerras dos chips”, as pressões sobre empresas como a TikTok e as restrições impostas pelos Estados Unidos a produtos chineses mostram que estamos diante de uma guerra tecnológica. Não é apenas econômica, é uma disputa por hegemonia sobre os fluxos de informação e vigilância global.


Mas há uma diferença importante entre o modelo chinês e o ocidental. A China, ao menos em teoria, busca orientar o desenvolvimento tecnológico com base em um conjunto de protocolos de inspiração socialista – princípios que incluem, por exemplo, a criminalização de discursos de ódio e de ações antissociais. Isso contrasta com o capitalismo de plataforma do Ocidente, que opera sem qualquer freio moral, ético ou ambiental.


Contudo, na prática, esses protocolos chineses também podem se converter em instrumentos de vigilância e punição. O mesmo aparato que combate o discurso de ódio pode servir à perseguição política, ao banimento digital ou mesmo ao encarceramento físico. A diferença de princípios não impede a convergência de resultados: em ambos os casos, o controle social se intensifica.


Essa situação lembra o que o filósofo Gilles Deleuze chamou, ainda nos anos 1970, de “sociedade de controle”. Ele observou que as formas tradicionais de vigilância – exercidas por instituições fechadas, como escolas, quartéis, famílias ou fábricas – estavam sendo substituídas por mecanismos difusos e contínuos de controle, dispersos por toda a vida social. É exatamente o que vivemos agora, neste primeiro quarto do século 21.


Hoje, o controle é difuso e fluido. Ele se manifesta tanto nas estruturas empresariais – como no Estado-plataforma das Big Techs – quanto nos mecanismos governamentais: no caso chinês, sob controle partidário; e, no ocidental, sob domínio corporativo. Mas há também um terceiro nível, mais sutil: o controle cruzado entre os próprios usuários nas redes sociais.


Dentro das plataformas, grupos rivais disputam narrativas, tentam silenciar uns aos outros e reforçam a lógica da vigilância mútua. É um campo de batalha simbólico e permanente – como se a própria sociedade tivesse internalizado o mecanismo de controle. Em 2025, vivemos essa sociedade de controle em todas as suas dimensões: empresarial, estatal e difusa.


FCW Cultura Científica – Em seu livro  “A destruição da política”, o senhor dialoga com o conceito de “sociedade de controle”, formulado por Gilles Deleuze. Por que é importante retomar o fascismo dentro desse contexto? Já vivemos, de alguma forma, um princípio de totalitarismo digital?


Vinício Martinez – Vou responder de trás para frente. Sim, acredito que já vivemos nas bordas – ou talvez dentro – de uma forma de totalitarismo digital. O conceito de “sociedade de controle”, formulado por Deleuze, descreve um tipo de hegemonia que hoje se tornou dominante: um poder que se exerce de modo difuso, contínuo e capilar, seja por meios institucionais, empresariais ou tecnológicos.


Isso não significa, porém, que as formas clássicas de controle – as instituições disciplinares do século 20 – tenham desaparecido. Elas permanecem e, em alguns casos, se expandem. Basta observar o crescimento do encarceramento no Brasil, que já ultrapassou a marca de 1 milhão de pessoas presas. Criamos inclusive presídios federais de segurança máxima, onde o controle é absoluto: vigia-se 24 horas por dia, regula-se o tempo, o corpo e até a respiração. É o controle disciplinar em seu estado puro.


Essas estruturas coexistem com o novo tipo de controle difuso e digital. De um lado, temos a vigilância algorítmica e o poder das plataformas; de outro, a ampliação de instituições tradicionais, como o Exército, a polícia e o sistema penal. A guerra permanente – seja na Ucrânia, em Gaza, na África ou nas ameaças de intervenção norte-americana na Venezuela – mostra que as formas clássicas de dominação e coerção continuam operando. Quanto mais guerra, mais se fortalece o aparato disciplinar.


Podemos ver isso também na educação. No estado de São Paulo, por exemplo, há um discurso de modernização e ampliação da rede pública, sustentado por uma parafernália tecnológica. Na prática, isso resulta em controle. O professor perde autonomia: é obrigado a seguir roteiros cronometrados, mudar slides a cada três minutos, repetir conteúdos padronizados. O estudante, por sua vez, torna-se mero receptor de comandos. É a simbiose entre o velho modelo disciplinar – com alunos enfileirados e vigilância constante – e a lógica do controle digital, mediado por plataformas.


Portanto, vivemos um momento híbrido. O controle digital tornou-se hegemônico, mas ele não substituiu as formas anteriores: convive com elas e as potencializa. De um lado, temos o controle empresarial e institucional; de outro, o controle social difuso, exercido nas redes, e o controle físico, que se expressa no encarceramento e nas políticas punitivas.


Em suma: as tecnologias contemporâneas não aboliram o fascismo – apenas o reconfiguraram. Hoje, ele se expressa em novas linguagens e dispositivos, atravessando todos os espaços da vida social. É o fascismo sem uniforme, sem partido, mas com algoritmo.


FCW Cultura Científica – A relação entre tecnologia e poder político é uma continuidade histórica?


Vinício Martinez – A associação entre técnica e política é antiga. No nazismo, por exemplo, o rádio foi o principal instrumento de controle social e difusão ideológica. Há registros do ministro da Propaganda nazista afirmando que cada casa na Alemanha deveria ter um rádio portátil para ouvir exclusivamente as transmissões do Partido Nazista.


Hoje, substituímos o rádio pelo celular – e é por meio dele que recebemos o discurso autorizado do nosso tempo, de modo igualmente centralizado e com mínima possibilidade de controle social efetivo. Por isso, é importante revisitar o fascismo: ele se atualiza tecnicamente, mas mantém a mesma lógica autoritária de concentração do discurso e exclusão da crítica. Quando a tecnologia é usada para difundir apenas mensagens favoráveis ao poder e suprimir vozes divergentes, estamos diante de uma nova forma de fascismo.


FCW Cultura Científica – Essa combinação entre tecnologia, discurso autoritário e fragmentação social ajuda a explicar o ambiente político atual?


Vinício Martinez – Sem dúvida. Hoje vemos a proliferação de discursos absurdos – anticientíficos, antivacina, racistas, misóginos – e fenômenos como o dos “coaches mirins”, crianças ensinando “receitas de sucesso” sem qualquer base conceitual. Isso mostra como técnica e comunicação continuam articuladas a uma ideologia de dominação.


O problema é que os discursos críticos, como o nosso, não são impulsionados pelos algoritmos. Quando publicarmos esta entrevista, por exemplo, ela dificilmente será distribuída amplamente. Teremos de compartilhá-la manualmente, em grupos e redes pessoais. Além disso, há um empobrecimento dos argumentos. Esses conteúdos autoritários são o que chamo de discursos plásticos – maleáveis, gelatinosos, que se adaptam a qualquer situação e colam facilmente nas pessoas. Essa plasticidade tem relação com o modo de vida imposto pelo capitalismo contemporâneo: fragmentado, precário, desregulamentado.


A reforma trabalhista, por exemplo, retirou garantias e segurança, deixando cada indivíduo isolado. Esse isolamento cria o terreno perfeito para que discursos simplistas e emocionais se espalhem com facilidade.


O algoritmo e o capitalismo fragmentário se reforçam mutuamente: um produz e distribui o discurso plástico; o outro cria as condições sociais para que ele seja absorvido. Essa é, talvez, a engrenagem fundamental do tecnofascismo atual.


FCW Cultura Científica – Professor, o senhor escreveu que resgatar a cidadania é sinônimo de combater o fascismo. Qual é o papel da educação nesse processo?


Vinício Martinez – É um papel essencial. A educação é, ao mesmo tempo, meio e fim desse enfrentamento. Ela amplia a compreensão das pessoas sobre o mundo, oferece instrumentos para o exercício da autonomia e, gradualmente, estimula a reflexão sobre emancipação. Não consigo ver a educação fora disso. Permitir que o estudante questione, duvide e se contraponha ao professor já é um passo importante, mas é apenas o meio. O fim é a emancipação – a construção de uma consciência ética, filosófica e democrática. É preciso ensinar não só conteúdos, mas também princípios e pressupostos: o que eles significam, como se organizam e quais são seus objetivos. Essa é a dimensão formadora da educação.


FCW Cultura Científica – O senhor poderia dar exemplos de como essa educação para a democracia pode se traduzir em práticas concretas?


Vinício Martinez – Um exemplo recente foi uma diretriz do Ministério da Educação que propõe o ensino da democracia como conteúdo obrigatório. É uma iniciativa importante. Vivemos um tempo em que muita gente usa a palavra “democracia” sem compreender o que ela significa. Há quem diga, por exemplo, que prender alguém que tentou dar um golpe de Estado “não é democrático” – o que revela uma completa confusão de valores.


A melhor forma de formar cidadãos conscientes é começar desde cedo, com crianças e jovens. É muito mais difícil educar um adulto cuja visão de mundo já está cristalizada por preconceitos e crenças. Posso contar um episódio: certa vez, um motorista de aplicativo me disse que não tomava vacinas. Eu expliquei que uso muletas porque tive poliomielite quando bebê, antes que pudesse ter tomado a vacina, e mesmo assim percebi que ele não mudou de opinião.


Por outro lado, os jovens que convivem comigo compreendem bem o sentido da prevenção, da saúde, do cuidado coletivo. Aprendem pela convivência. Isso mostra como a formação democrática – a capacidade de compreender o outro, de ouvir, de conviver – começa no cotidiano, não apenas na escola formal.


FCW Cultura Científica – E como essa perspectiva se aplica aos adultos e à sociedade em geral?


Vinício Martinez – Há experiências interessantes também com adultos. Após o ataque golpista de 8 de janeiro de 2023, alguns condenados tiveram a opção de trocar a pena de prisão por um curso remoto de 30 horas sobre direitos humanos, democracia e cidadania. Metade recusou a oportunidade. Preferiram continuar detidos a participar de um curso sobre democracia. Esse dado é impressionante e mostra como é mais difícil mudar percepções arraigadas.


Mas isso não significa que seja impossível. Após a Segunda Guerra Mundial, a Alemanha passou por um processo intenso de desnazificação, que envolveu tanto medidas políticas quanto educacionais. Algo semelhante poderia inspirar políticas públicas voltadas à desconstrução de discursos fascistas – racistas, misóginos, preconceituosos – que ainda circulam amplamente, inclusive nas redes sociais.


Por isso, vejo com bons olhos a proposta de ensino de conteúdos sobre democracia. Foi um acerto do Ministério da Educação. O problema é quando se retira filosofia e ética dos currículos e se inclui, por exemplo, robótica em locais que sequer têm infraestrutura básica. A educação deve formar cidadãos críticos, conscientes de que a democracia é um processo – político, social e econômico – e de que combatê-la, direta ou indiretamente, é abrir caminho para o retorno do fascismo.




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Revista FCW Cultura Científica v.3 n.4  | Dez. 2025 - Fev. 2026

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