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Futuro da Linguagem

Editorial

Linguagem do futuro

Esta edição aborda as transformações na linguagem, investigados em áreas e temáticas como a sociolinguística, o multilinguismo, a filosofia da linguagem e o pós-humanismo. Os entrevistados destacam também impactos que as tecnologias digitais e a inteligência artificial estão provocando na linguagem e na comunicação

Sobre

Nesta edição entrevistamos os professores Alexandre Guimarães Tadeu de Soares, Gilvan Müller de Oliveira, Helena Caseli, Marcelo Buzato e Raquel Freitag

É uma grande alegria apresentar esta quinta edição de FCW Cultura Científica. Lançada no início de 2023, a revista digital da Fundação Conrado Wessel já teve como temas “Materiais Avançados”, “Conservação da Biodiversidade”,  “Saúde na Amazônia” e  “Chatbots e o ano da inteligência artificial”. Em um ano, entrevistamos alguns dos mais renomados cientistas do Brasil nas mais diversas áreas do conhecimento


Desta vez, o tema é “Futuro da Linguagem”, mas bem poderia ser “Linguagem do Futuro”, uma vez que a edição aborda não apenas mudanças e transformações da linguagem, mas também o impacto da inteligência artificial e da computação na comunicação entre humanos e, pensando mais à frente – mas talvez nem tanto –, entre humanos e máquinas. 


Um consenso entre os entrevistados é que a evolução tecnológica influencia profundamente a linguagem humana. Compreender como essas mudanças afetam a forma como nos comunicamos e interagimos é fundamental para acompanhar e entender o futuro da linguagem. Nesta edição, abordamos diversos aspectos da pesquisa em linguagem, teóricos e práticos, sociais e políticos, tradicionais e inovadores. 


Gilvan Müller de Oliveira, professor da Universidade Federal de Santa Catarina, fala sobre o multilinguismo, "um conceito político que tem a ver com o exercício da tolerância, da cidadania, do reconhecimento da diversidade e, nesse sentido, de denúncia das políticas linguísticas monolíngues que tentaram abafar essa pluralidade de manifestações". Ele explica também as pesquisas conduzidas na Cátedra Unesco em Políticas Linguísticas para o Multilinguismo, que coordena, e destaca a importância de políticas que possibilitem a preservação da diversidade linguística em um país como o Brasil, país com uma história de "forte tradição de repressão linguística". 


Raquel Meister Ko. Freitag, professora da Universidade Federal de Sergipe, fala sobre os objetos de estudo da sociolinguística, que incluem variações geracionais, o efeito da escolarização, a exposição à cultura letrada e questões de gênero, do tipo falas femininas, falas masculinas ou falas não-binárias. "A língua não é homogênea. As pessoas não falam todas iguais. Mesmo dentro do que caracterizamos como uma mesma língua há variações e essas variações não são aleatórias, elas têm um comportamento que permite identificar grupos que se alinham por traços linguísticos", diz.  


Alexandre Guimarães Tadeu de Soares, professor da Universidade Federal de Uberlândia, explica como a filosofia da linguagem tem se modificado com o tempo, desde a lógica de tradição aristotélica, passando pela tradição cartesiana, até a mais recente filosofia analítica da linguagem, que investiga “os procedimentos de formalização da linguagem para atingir melhor o que é dado na experiência. Esses procedimentos permitem uma formalização e uma objetivação da própria linguagem, que começa a ser explorada intensa e extensivamente”. 


Uma das áreas de maior destaque na inteligência artificial é o processamento de linguagem natural (PLN), base do funcionamento de sistemas como o ChatGPT. Helena Caseli, professora no Departamento de Computação da Universidade Federal de São Carlos, fala sobre como os sistemas que usam PLN "aprendem", o papel das redes neurais, o impacto da internet, os desafios na pesquisa com PLN, especialmente no Brasil, e o que muda quando passamos a usar os sistemas de inteligência artificial em linguagem falada. 


Mudanças que são estudadas por pesquisadores como Marcelo El Khouri Buzato, professor da Universidade Estadual de Campinas, inclusive na subjetividade humana. “Começamos a não ser apenas definidos por nacionalidade, classe ou gênero, mas pelo que dizemos, onde clicamos, para quem encaminhamos textos, todo um conjunto de indícios de relações em lugar de tipos de substância ou classes de objetos. O sujeito vira um vetor matemático que define cada pessoa pela probabilidade de suas próximas escolhas, de forma não tão diferente de como um modelo de linguagem define uma palavra pela probabilidade de ela se ligar às outras em um texto típico”, diz. 


Termino este editorial com um poema que publiquei no livro Paisagem Doméstica (1984) e que pode ser lido, junto com toda a minha obra de poesia, no novo site Cantografia (cantografia.com.br). 


Biobibliografia precoce

Fui aprender linguística para entender as palavras

ensinei semântica ao acreditar que tudo tem sentido

escrevi livros sobre a linguagem buscando não perder

as farpas das circunstâncias

traduzi textos de hermética lógica e mitológicas

depois de viajar por binarismos e termos médios

sem deixar de girar por gerações de frases bobas

volto ao ponto de que partia:

vejo-me gramaticalmente indecifrável

diante da técnica da poesia


Boa leitura!


Carlos Vogt 

Editor-chefe

Diretor-presidente e coordenador cultural da FCW



 



Revista FCW Cultura Científica v. 2 n.1 Fevereiro - Abril 2024

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