Sociólogo Sergio Miceli morre aos 80 anos

Reitoria da USP lamentou profundamente a perda do professor titular FFLCH e presidente da Edusp e decretou luto oficial de três dias

O sociólogo Sergio Miceli Pessôa de Barros, professor titular da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo e presidente da Editora da USP (Edusp), morreu nesta sexta-feira, 12 de dezembro, em São Paulo, aos 80 anos.

Em nota, a Reitoria da USP lamentou profundamente a perda e decretou luto oficial de três dias. “Miceli deixa um legado inestimável para o pensamento social e para a publicação acadêmica no País”, afirmou a Reitoria, que também se solidarizou com a esposa, Heloísa Pontes, os três filhos, amigos, alunos e colegas da FFLCH e da Edusp “neste momento de perda irreparável para a cultura e a ciência brasileira”.

Nascido em 1945, Miceli formou-se em Ciências Políticas e Sociais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e concluiu o mestrado em Ciências Sociais pela USP. Em 1978, obteve dupla titulação de doutorado pela USP e pela École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS), na França, sob orientação de Pierre Bourdieu. Sua tese, Intelectuais e classe dirigente no Brasil, 1920-1945, é considerada “obra de referência fundamental na área da sociologia”, segundo a Reitoria da USP.

Professor da USP desde 1989, Miceli teve atuação marcante também na Fundação Getulio Vargas, na Unicamp e em instituições como o Instituto de Estudos Econômicos, Sociais e Políticos de São Paulo (Idesp). No mesmo ano em que ingressou na USP, coordenou a obra coletiva História das Ciências Sociais no Brasil, reunindo pesquisadores que se tornariam referências no campo. Ao longo da carreira, publicou e organizou mais de 40 livros e teve papel decisivo na introdução e difusão do pensamento de Pierre Bourdieu no Brasil, organizando títulos como A economia das trocas simbólicas.

À frente da Edusp de 1994 a 1999 e, novemente, desde 2022, Miceli defendeu com vigor o fortalecimento das editoras universitárias e a circulação de obras de alto valor cultural e científico. Em suas palavras, tratava-se de publicar livros que “as editoras comerciais jamais fariam”. A Edusp destacou que o professor “teve papel decisivo na formação do catálogo da editora”, guiando a criação e renovação de coleções e a tradução de clássicos essenciais à formação universitária.

O Departamento de Sociologia e o Programa de Pós-Graduação em Sociologia da FFLCH também manifestaram pesar. Em nota, lembraram que Miceli, “sociólogo inquieto e incansável, apaixonado e brilhante”, imprimiu desde cedo “uma marca muito própria e única”, a começar pelo trabalho A noite da madrinha, estudo pioneiro sobre programas de auditório da televisão brasileira. “Sua presença fica viva em todos os que o leram e ouviram”, diz o texto, assinado pelo professor Leopoldo Waizbort.

Entre suas obras mais conhecidas estão Intelectuais à brasileira, A elite eclesiástica brasileira, Nacional estrangeiro, Sonhos da periferia e Lira mensageira: Drummond e o grupo modernista mineiro. Atuou ainda como editor e coordenador de coleções em diferentes casas editoriais e teve impacto institucional em entidades como a Anpocs, a revista Tempo Social e editoras universitárias no Brasil e no exterior.

“Fã de ópera, leitor voraz”, lembra a FFLCH, Miceli também se interessava por cinema, teatro e séries de televisão, transformando tudo o que via “em assunto para conversa e matéria para reflexão”. “Em qualquer situação, quem estava ao seu lado saía mais inteligente do que quando chegou. Assim foi e assim continuará sendo”, destaca a nota.

O velório foi realizado no sábado, 13 de dezembro, no Cemitério Parque Morumby, em São Paulo.

Com informações da Adusp e do Jornal da USP. Foto: Edusp