top of page
  • Preto Ícone Instagram
  • Cinza ícone do YouTube

Mercedes Bustamante e Marcelo Rubens Paiva recebem Prêmio FCW 2025

Em cerimônia em São Paulo, Fundação Conrado Wessel entrega prêmios à pesquisadora em mudanças climáticas e Cerrado e ao autor de Ainda Estou Aqui e Feliz Ano Velho 


ree

31/10/2025


Em cerimônia realizada na quinta-feira (30/10), em São Paulo, a Fundação Conrado Wessel entregou o Prêmio FCW de Ciência a Mercedes Bustamante e o Prêmio FCW de Cultura a Marcelo Rubens Paiva. A cientista e o escritor receberam R$ 400 mil cada um, além do troféu do Prêmio FCW, criação do artista plástico Nicolas Vlavianos.


“Esta é uma celebração que traz também um profundo senso de responsabilidade. Nesta cerimônia de entrega dos Prêmios FCW, nos reunimos para reconhecer, valorizar e aplaudir aqueles que, com inteligência e sensibilidade, iluminam nossos caminhos em um momento delicado. Um momento de enormes desafios, entre os quais dois se impõem com especial gravidade e urgência: as mudanças climáticas e o avanço de projetos totalitários que corroem as instituições democráticas”, disse Carlos Vogt, diretor-presidente da Fundação Conrado Wessel.


“Esses dois grandes desafios estão entrelaçados. Onde há autoritarismo, falta espaço para a ciência e para o debate público. Onde a democracia é sufocada, a cooperação entre as nações é mais difícil e a ação climática, mais lenta. É por isso que o momento atual exige vigilância redobrada e coragem renovada: para enfrentar a emergência ambiental e, ao mesmo tempo, preservar e fortalecer os valores democráticos que garantem nossa liberdade. Nesse cenário, mais do que importante, é necessário e fundamental destacar bons exemplos. Mostrar que é possível resistir. Que é possível construir. Que é possível acreditar. Temos bons exemplos a oferecer ao mundo”, disse Vogt.


Em seguida, os membros do Conselho Curador da Fundação entregaram o Prêmio FCW de Ciência a Mercedes Bustamante. 


Professora da Universidade de Brasília e pesquisadora da vegetação nativa da região central do Brasil, Mercedes Bustamante é uma das mais renomadas cientistas do país, especialmente na área de mudanças climáticas. Com ênfase em Ecologia de Ecossistemas, atua principalmente nos temas Cerrado, mudanças no uso da terra, biogeoquímica e mudanças ambientais globais. Foi autora do capítulo Agriculture, Forestry and Other Land Uses do 6º Relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, 2019–2022) e responsável pela elaboração do Relatório Técnico sobre Mitigação de Mudanças Climáticas no Brasil (2011–2014).


"É com muita emoção que eu expresso a minha mais profunda gratidão ao comitê do Prêmio FCW e à Fundação Conrado Wessel por defender a investigação científica e por usar a sua plataforma para amplificar a mensagem urgente da mudança climática. Receber esse prêmio é uma honra que eu compartilho com toda a comunidade científica brasileira", disse Bustamante.


"A escolha do tema pelo Prêmio FCW de Ciência em sua edição de 2025 é uma poderosa validação e um reconhecimento que alimenta a nossa determinação em transformar dados em conhecimento e conhecimento em ação. A ciência da mudança do clima tem em sua missão a construção de um futuro que não repita o passado e a prospecção de novas possibilidades que conciliem integridade ambiental e justiça social", disse Bustamente.


Mercedes Bustamante recebe o Troféu FCW de José Roberto Drugowich de Felício, presidente do Conselho Curador da Fundação Conrado Wessel
Mercedes Bustamante recebe o Troféu FCW de José Roberto Drugowich de Felício, presidente do Conselho Curador da Fundação Conrado Wessel

Nascida no Chile e naturalizada brasileira, Mercedes Bustamante é graduada em Ciências Biológicas pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, mestre em Ciências Agrárias – Fisiologia Vegetal pela Universidade Federal de Viçosa e doutora em Geobotânica pela Universidade de Tréveris, na Alemanha. Foi coordenadora-geral de Gestão de Ecossistemas (2011–2012) e diretora de Políticas e Programas Temáticos do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (2012–2013), além de diretora de Programas e Bolsas no País da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes, 2016). É integrante da Academia Brasileira de Ciências (ABC) desde 2015 e comendadora da Ordem Nacional do Mérito Científico, título recebido em 2018.


Foi representante da América Latina na Iniciativa Internacional do Nitrogênio (2010–2013) e membro do Comitê Científico do Relatório N₂O – Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas (2013), do Comitê Científico do Programa Internacional da Geosfera-Biosfera (2007–2012) e do Painel de Ciência Independente do Programa de Segurança de Mudança Climática, Agricultura e Alimentos (2015–2017). Em 2007, recebeu o Prêmio Claudia – Mulher do Ano, na categoria Ciências, da Editora Abril, e, em 2009, o Prêmio Verde das Américas, na categoria Mudanças Climáticas, concedido pelo Encontro Verde das Américas – Greenmeeting.


A escolha de Mercedes Bustamante para receber o Prêmio FCW de Ciência 2025, que teve como tema “Mudanças Climáticas”, foi feita pela Comissão Julgadora presidida por Helena Nader (professora emérita da Escola Paulista de Medicina e presidente da Academia Brasileira de Ciências) e composta por Carlos Alberto Aragão de Carvalho Filho (diretor de Desenvolvimento Científico da Finep), Carlos Alfredo Joly (professor emérito da Unicamp), Denise Pires de Carvalho (presidente da Capes), Jerson Lima Silva (professor titular da UFRJ), Manoel Barral Netto (presidente da Academia de Ciências da Bahia), Marcio de Castro Silva Filho (diretor científico da Fapesp), Marco Antonio Zago (presidente da Fapesp) e Ricardo Magnus Osório Galvão (presidente do CNPq).


“As mudanças climáticas não são apenas um problema científico ou ambiental, mas um problema social, econômico e civilizatório. Não há futuro sem compromisso climático. E este é um ano simbólico. A COP30, que será realizada na Amazônia, coloca o Brasil no centro das atenções globais. E coloca também uma responsabilidade sobre nós: a de liderar, do Sul Global para o mundo, uma resposta concreta e justa à emergência climática. O trabalho de pesquisadores como Mercedes Bustamante mostra que temos competência e conhecimento para isso”, disse Vogt.


Cultura e democracia


Vencedor do Prêmio FCW de Cultura, este ano dedicado à Literatura, um dos mais conhecidos escritores brasileiros, Marcelo Rubens Paiva é autor de Ainda Estou Aqui (2015), obra sobre a luta de sua mãe, a advogada Eunice Paiva, em busca de respostas para o desaparecimento do marido, Rubens Paiva. Engenheiro e deputado cassado pela ditadura, Paiva foi levado para interrogatório em janeiro de 1971 e nunca mais voltou. O caso foi um dos investigados pela Comissão Nacional da Verdade, que confirmou o assassinato cerca de 40 anos após o desaparecimento. Dirigido por Walter Salles, o filme baseado na obra, também intitulado Ainda Estou Aqui, tornou-se, em 2025, o primeiro longa brasileiro a conquistar um Oscar, na categoria de Melhor Filme Internacional. No papel de Eunice Paiva, Fernanda Torres venceu o Globo de Ouro de melhor atriz.


Marcelo Rubens Paiva alcançou sucesso literário já na estreia, com Feliz Ano Velho (1982), no qual narra a experiência de se tornar tetraplégico após um acidente e aborda temas como juventude, reabilitação, superação e reflexões sobre a vida. O livro foi o mais vendido no Brasil na década de 1980, com mais de 200 edições, e recebeu diversos prêmios, entre eles o Jabuti de Literatura. Paiva publicou mais de uma dezena de livros, entre os quais Não És Tu, Brasil (1996), A Segunda Vez que Te Conheci (2008), O Orangotango Marxista (2018), O Homem Ridículo (2019), Do Começo ao Fim (2022) e O Novo Agora (2025).


“É uma honra receber o Prêmio FCW, ainda mais em dias em que somos mais uma vez chamados a defender a democracia. Agradeço muitíssimo por essa grande homenagem”, disse Paiva, que recebeu o Prêmio FCW de Cultura de Soraya Smaili, membro do Conselho Curador da Fundação Conrado Wessel, e Carlos Vogt.


Em seguida, Paiva falou sobre Ainda Estou Aqui, livro sobre "a história da nossa família, da prisão e do desaparecimento político do meu pai, Rubens Paiva, em janeiro de 1971, durante a ditadura militar do Brasil, mas também sobre a ética, o drama, a luta e o sorriso da minha mãe, Eunice Facciola Paiva".


"O legado da minha mãe foi transformado em dor, a dor em luta, sem que se fizesse de vítima. A mensagem que ela passa é que o antídoto para o sofrimento é o ativismo político. Mas poucos conheceram o fim trágico da história, a sua perda de memória por conta de Alzheimer. Alguém com Alzheimer morre aos poucos. Sua alma se evapora antes do físico derreter. Por vezes, falávamos da minha mãe no passado, apesar de ela estar por perto e imóvel, numa cadeira de rodas. Por vezes, ela tinha lampejos de lucidez. Foi num desses que reclamou: 'Ainda estou aqui'. Sim, mamãe, logo corrigimos. Sabemos disso, nos desculpe", disse.


"Eu defendo a tese da literatura como missão, como propôs Nicolau Sevcenko. Somos animais políticos, disse Aristóteles. Ao começar a escrever o livro [Ainda Estou Aqui], fiz uma descoberta: minha mãe não era 'apenas' a viúva de um desaparecido político, como era tratada pela imprensa, mas atuou em momentos cruciais dos anos da ditadura e da reconstrução democrática. Esteve em Brasília com meu pai, deputado, no golpe de 1964. Foi presa com ele em 1971. Lutou pelo reconhecimento de desaparecidos políticos, pelo fim da ditadura, pela anistia, pelo direito indígena da Constituinte de 1988 e viu a democracia ser reconstruída. Sem contar, o mais importante, que cuidou sozinha de cinco filhos, cinco crianças", disse Paiva.


Marcelo Rubens Paiva é recebido pelos membros do Conselho Curador da Fundação Conrado Wessel no momento de entrega do Prêmio FCW de Cultura 2025
Marcelo Rubens Paiva é recebido pelos membros do Conselho Curador da Fundação Conrado Wessel no momento de entrega do Prêmio FCW de Cultura 2025

Vogt destacou que, mais importante do que os prêmios recebidos por Ainda Estou Aqui é a força de sua mensagem. "A memória é um ato de resistência; contar a verdade é um gesto de democracia. Em um tempo em que tentações autoritárias voltam a ameaçar as sociedades e revisionismos históricos tentam reescrever páginas de dor, a obra de Marcelo Rubens Paiva é um lembrete poderoso de que o esquecimento é cumplicidade. Hoje, quando o mundo atravessa tempos difíceis, é simbólico que a cultura brasileira conquiste um Oscar — e que o autor dessa história receba, no mesmo ano, o Prêmio FCW de Cultura. Isso mostra que, mesmo em momentos sombrios, a arte continua sendo luz”, disse.


O vencedor do Prêmio foi escolhido pela Comissão Julgadora presidida por José de Souza Martins (professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP) e composta por Alcir Pécora (crítico literário e professor da Unicamp), Carlos Augusto Machado Calil (professor da Escola de Comunicações e Artes da USP), Eugênio Bucci (superintendente de Comunicação Social da USP), Hubert Alquéres (presidente do Conselho Estadual de Educação), Ismail Norberto Xavier (professor associado da ECA-USP), Jorge Schwartz (professor titular de Literatura Hispano-Americana da USP), Liniane Haag Brum (pesquisadora em literatura, docente e autora), Orna Messer Levin (professora do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp) e Sabine Righetti (pesquisadora e professora no Labjor-Unicamp).


Os vencedores dos Prêmios FCW de Cultura, Fotografia e Ciência
Os vencedores dos Prêmios FCW de Cultura, Fotografia e Ciência

Cerimônia de premiação


Além dos Prêmios FCW de Ciência e de Cultura, a cerimônia contou com a entrega do Prêmio FCW de Fotografia e com o lançamento de um vídeo institucional da Fundação Conrado Wessel. O evento foi aberto com um show da cantora Camilla Faustino.


ree

ree

 
 
 

Comentários


Não é mais possível comentar esta publicação. Contate o proprietário do site para mais informações.

Fundação Conrado Wessel

Rua Pará, 50 - 15° andar - Higienópolis - São Paulo - CEP 01243-020

(11) 3151-2141

bottom of page