Arquitetos da transformação necessária
- Fundação Conrado Wessel
- há 20 horas
- 3 min de leitura
"A ciência da mudança do clima tem em sua missão a construção de um futuro que não repita o passado e a prospecção de novas possibilidades que conciliem integridade ambiental e justiça social", disse Mercedes Bustamante, vencedora do Prêmio FCW de Ciência 2025

Mercedes Bustamante, vencedora do Prêmio FCW de Ciência 2025
Discurso de agradecimento
30/10/2025
Primeiramente, quero expressar minha mais profunda gratidão ao Comitê do Prêmio Conrado Wessel e à Fundação Conrado Wessel. Obrigada por defender a investigação científica e por usar sua plataforma para amplificar a mensagem urgente da mudança climática.
A escolha do tema em Ciência na edição 2025 é uma poderosa validação e um reconhecimento que alimenta nossa determinação em transformar dados em conhecimento e conhecimento em ação.
É uma honra imensa dividir esse momento com a concessão do Prêmio na categoria Cultura a Marcelo Rubens Paiva.
A literatura de Marcelo Rubens Paiva conectou novas gerações com um passado do Brasil que não deve ser esquecido para não ser repetido.
Em um arco que une Cultura e Ciência, a ciência da mudança do clima também tem em sua missão a construção de um futuro que não repita o passado e a prospecção de novas possibilidades que conciliem integridade ambiental e justiça social.
Não estaria hoje aqui sem uma base construída continuamente construída por muitos.
À minha família aqui representada por minha mãe, exemplo de firmeza de propósito e de confiança na educação, minha irmã com quem compartilho a vocação para a docência e a pesquisa e por minhas duas filhas que me acompanharam em idas ao laboratório, ao campo, ouviram e melhoraram minhas palestras e até ajudaram nas prestações de contas de projetos (eu espero que isso não tenha gerado traumas duradouros).
Aos meus professores e colegas que se tornaram amigos e aos meus alunos com quem sigo descobrindo como ainda há muito por descobrir. À Universidade de Brasília, instituição que me ofereceu oportunidades de construir uma trajetória na formação de pessoas e na geração do conhecimento. Aos órgãos e instituições financiadoras que acreditaram em nosso trabalho. Ao Cerrado, fonte de permanente deslumbramento e que nos oferece lições cotidianas de resiliência mesmo diante de condições desafiadoras.
Muitas vezes me perguntam se trabalhar com dados e projeções associadas à mudança do clima não gera desânimo. Eu respondo que gera responsabilidade. Com a responsabilidade do conhecimento vem o dever de comunicar, dialogar e buscar soluções. Com a clareza do conhecimento vem o poder de inovar, adaptar e mitigar.
Em sua carta encíclica Laudato si, sobre o cuidado de nossa casa comum, o Papa Francisco nos lembra que o progresso humano autêntico possui um caráter moral e pressupõe o pleno respeito à pessoa humana, mas também ao mundo natural e ter em conta a natureza de cada ser e as ligações mútuas entre todos.
Se como cientistas, somos os tradutores, por vezes incômodos, dos sinais de socorro do planeta, somos também parte dos arquitetos da transformação necessária. No final do dia, o propósito não vem de informações e metas complexas, mas da visão que ao corrigir o rumo dos modelos de desenvolvimento que nos colocaram frente a esses desafios, podemos melhorar a vida de todas as pessoas e em todos os lugares para que possam prosperar em limites seguros, com a realização de seus talentos e sonhos e em entrelaçamento recíproco com todas as outras formas de vida nesse planeta de características únicas e insubstituíveis.
Obrigada mais uma vez.






Comentários