Morre o geneticista Henrique Krieger

Professor do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, Krieger foi presidente da Associação Latinoamericana de Genética e coordenador do Instituto Nacional de Epidemiologia da Amazônia Ocidental

O geneticista Henrique Krieger, professor do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), morreu no dia 18 de agosto, aos 86 anos. O funeral foi realizado no dia seguinte, na capital paulista.

Coordenador do Instituto Nacional de Epidemiologia da Amazônia Ocidental (EpiAmO), Krieger foi presidente da Associação Latino Americana de Genética e, por duas vezes, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Genética. Foi membro da Academia Brasileira de Ciências, da Academia de Ciências de São Paulo e do Comitê Gestor do Instituto Nacional de Genética Médica Populacional.

Professor da Faculdade de Medicina da USP em Ribeirão Preto, da Universidade de Brasília e da Universidade Federal de São Carlos, além de criador do Departamento de Genética do Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz), Krieger teve atuação destacada na formação de geneticistas no país, tendo sido fundamental para a expansão e consolidação da pesquisa brasileira nessa área.

Formado em História Natural pela Universidade Federal do Paraná (1962), com PhD pela Universidade do Havaí (1966), conquistou a livre-docência pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP em 1969. Em pesquisa, especializou-se em Genética e Parasitologia, especialmente nas áreas de Resistência às Infecções e Genética de Populações Brasileiras.

Pesquisador 1-A do CNPq, Krieger foi também professor visitante na Washington University, no Instituto Pasteur e na Oxford University. Contribuiu com mais de uma centena de trabalhos científicos, publicados em revistas de circulação internacional, além de produzir uma dezena de livros e capítulos.

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) publicou nota, "manifestando profundo pesar. Associado à SBPC desde 1961, Krieger foi membro do conselho da entidade por dois mandatos – 1973-1975 e 1975-1979 – e, em seguida, atuou na diretoria em duas gestões consecutivas (1979-1981 e 1981-1983).

Membro do conselho da SBPC e pesquisador emérito da Fiocruz, Renato Balão Cordeiro lamentou a perda de Krieger. “Tive a honra de conviver com Henrique Krieger, um dos mais brilhantes geneticistas brasileiros. Nos conhecemos na Universidade de Brasília, onde ele chefiou o Laboratório de Genética. Depois, nos encontramos na SBPC, onde fomos colegas de Diretoria na gestão de 1979-1981, com José Goldenberg, Igor Gil Pacca e os saudosos Angelo Machado, Carolina Bori, Ernst Hamburger e Darci Fontoura de Almeida. Por fim, estivemos juntos no Instituto Oswaldo Cruz-Fiocruz, onde liderou o Departamento de Genética. Krieger também era pai do saudoso Marco Aurélio Krieger, vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, que faleceu em abril deste ano. Grandes perdas para a Ciência brasileira”, disse.

Secretário da SBPC, Samuel Goldenberg relembrou os encontros com Krieger nas salas de aula. “Henrique Krieger foi meu professor na Universidade de Brasília, mas, mais do que isso, foi um amigo da vida toda. Tinha um humor associado com a sua inteligência aguda, marcante para aqueles que com ele conviveram. Henrique Krieger foi um itinerante deixando sementes por onde passou: USP de Ribeirão Preto, Universidade de Brasília, Universidade Federal de São Carlos, Instituto Oswaldo Cruz e USP. Nesta última instituição, contribuiu para germinar o polo da USP em Rondônia, não limitando sua dispersão de conhecimento aos centros mais desenvolvidos. Henrique Krieger transpirava ciência e certamente sempre inspirador para os que trabalharam diretamente com ele e aqueles, como eu, que tiveram o privilégio de seu convívio. Fará muita falta este meu amigo torcedor do Coritiba, Corinthians e Botafogo. Queria ter uma casa com piscina, não para nadar, mas para sentar-se à beira para tomar o seu whisky. Descanse em paz, querido amigo”, disse.

Em foto de 2023, Henrique Krieger, membros do Conselho Curador da FCW e o então diretor-presidente Erney Plessmann de Camargo recebem Nísia Trindade Lima, na época Ministra da Saúde, em visita à Fundação

Confraria

Henrique Krieger foi um dos fundadores e ativo participante da Confraria, um grupo de amigos que se reunia para discutir os rumos da ciência brasileira. Carlos Morel, Erney Plessmann de Camargo, Isaac Roitman, Marcello Barcinski, Luiz Travassos, Nisia Trindade e Wanderley de Souza eram outros integrantes que se reuniam em almoços ou jantares em São Paulo, Rio de Janeiro ou Brasília.

Em entrevista para a FCW, publicada no livro Coragem: Erney Plessmann de Camargo e o desafio de fazer ciência no Brasil, Krieger lembrou da amizade com Camargo e os colegas cientistas. Para ler o livro Coragem!, clique aqui.

Fotos: EpiAmO e FCW.