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FCW lança livro sobre Erney Camargo

“Coragem!” reúne depoimentos de cientistas e amigos do pesquisador e professor da EPM e USP e gestor que presidiu a Fundação Conrado Wessel e o CNPq



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A Fundação Conrado Wessel lançou o livro “Coragem! Erney Plessmann de Camargo e o desafio de fazer ciência no Brasil”, que reúne depoimentos de cientistas e amigos do ex-diretor-presidente da Fundação Conrado Wessel, falecido em março aos 87 anos.


O lançamento do livro ocorreu durante a cerimônia de entrega dos Prêmios FCW de 2023, realizada em São Paulo no dia 26 de outubro. Vários dos entrevistados no livro participaram do evento, incluindo Anamaria Aranha Camargo e Luís Eduardo Aranha Camargo, filhos do professor Erney.


"O professor Erney teve a honra de presidir, em seus últimos anos de vida, a Fundação Conrado Wessel, instituição da qual sempre teve muita admiração. E esta noite, além dele, está faltando também a nossa querida mãe Marisis, que nos deixou há vinte dias", disse Luís Eduardo.


"Nossos pais deixaram aos filhos um legado que é o interesse pela docência e pela pesquisa e todos nós estamos envolvidos. Mas ao ler o livro 'Coragem!', percebemos que essa herança vem não só deles, mas também das pessoas que circulavam, em maior ou menor proximidade, da nossa casa e eram próximos aos meus pais, muitos dos quais estão aqui hoje nesta cerimônia, e somos muito gratos a eles também. Gostaria de parabenizar a parabéns à Fundação Conrado Wessel pelo livro, que é uma memória extremamente fiel e leve, e somos eternamente gratos por esta homenagem", disse.


“Coragem!” – algo que Camargo costumava dizer aos amigos, como alguns contam no livro – é dividida em períodos que marcaram a vida e a carreira de Camargo como cientista, professor e gestor.


“Tudo o que Erney fez, ele fez bem. Quando olhamos sua trajetória de vida do ponto de vista das atividades, sejam acadêmicas, de gestão ou de administração, vemos que ele teve um reconhecimento em vida da importância do que fez, do pioneirismo com que conduziu trabalhos sobre temas que afligem sociedades imensas e historicamente negligenciadas. Isso faz compreender imediatamente que da reflexão do trabalho intelectual, do trabalho de pesquisa, ele imediatamente passava para ações objetivas, que visavam pôr em prática aquilo que a ciência possibilitava e que as descobertas da ciência de que ele próprio participava permitiam”, diz Carlos Vogt, diretor-presidente da FCW, na introdução do livro.


Alvaro Toubes Prata, Carlos Morel, Clara Mestriner, Drauzio Varella, Helena Nader, Henrique Krieger, Isaac Roitman, Jorge Guimarães, Manoel Barral Netto, Marcello Barcinski, Marco Antonio Zago, Marta Geraldes Teixeira, Moisés Goldbaum, Osvaldo Nakao, Vahan Agopyan e Wanderley de Souza são alguns dos cientistas entrevistados, que falam sobre a convivência e a amizade com professor Erney. O livro também inclui depoimentos dos membros do conselho curador da FCW, de colegas e dos filhos Anamaria, Luís Eduardo, Luís Fernando e Luís Marcelo.


O capítulo “Medicina e saúde” aborda o início na Faculdade de Medicina da USP e na parasitologia. “A formação com o professor Samuel Pessoa foi muito importante na vida do meu pai e em suas convicções sociais. Era a questão da ciência para melhorar a vida das pessoas e, no caso dele especificamente, que era médico, a forma mais óbvia de fazer isso era por meio da melhoria na saúde”, diz Anamaria Camargo, coordenadora do Centro de Oncologia Molecular e gerente de pesquisa do Instituto Sírio Libanês de Ensino e Pesquisa.


O capítulo “Ditadura e exílio” enfoca o período em que Camargo se viu obrigado a deixar o Brasil, de 1964 a 1969, e a prisão em 1970, depois que retornou ao Brasil. “Foi cassado, demitido duas vezes, viu amigos e professores humilhados e perseguidos, tempos de cartas anônimas, prisões, torturas e muita insegurança. Apesar de tudo, ele resumia aquele período simplesmente como ‘um longo tempo perdido’”, relembra Marta Teixeira, professora do Instituto de Ciências Biomédicas da USP.


“Cientista e professor” conta o retorno à docência a partir de 1970, quando Camargo ingressou na Escola Paulista de Medicina e ajudou a tornar a instituição referência em microbiologia, imunologia e parasitologia, e a volta aos estudos com doenças como chagas e malária. “O trabalho de pesquisa do professor Erney com Trypanosoma cruzi serviu de modelo na década de 1970 para vários estudos, não só para doença de Chagas, que é uma doença de muita importância ainda hoje, mas também para a bioquímica e para vários processos descritos em imunologia”, diz Clara Mestriner, professora da Escola Paulista de Medicina – Unifesp.



Em 1986, após o fim do período de ditadura militar no Brasil, Camargo retornou à USP como professor titular, aprovado em concurso no Instituto de Ciências Biomédicas. No ICB, foi chefe do Departamento de Parasitologia e vice-diretor. Entre 1988 e 1993, foi pró-reitor de Pesquisa da USP.


Os cargos de gestão se sucederam, como mostra o capítulo “Gestão e política científica”. Foi diretor do Instituto Butantan e presidiu o CTNBio e o CNPq. Durante a sua gestão, o CNPq criou a plataforma Carlos Chagas e fortaleceu a plataforma Lattes, importantes mecanismos de informação e integração de pesquisadores no Brasil.


“O professor Erney defendia a importância de ter instituições de pesquisa e universidades fortes para que a ciência brasileira pudesse avançar. Ele percebia que nossas universidades, em muitos aspectos, estavam muito amarradas, muito burocráticas, e ele reclamava por mais autonomia, mais independência e mais liberdade”, disse Alvaro Toubes Prata, professor e ex-reitor da Universidade Federal de Santa Catarina.


O capítulo “Amazônia e África” conta quando, na década de 1980, Camargo e Luiz Hildebrando Pereira da Silva decidiram ir para a Amazônia para ajudar o país a enfrentar a explosão de casos de malária, resultado da busca de ouro por milhares de garimpeiros. Além da publicação de dezenas de artigos científicos que aumentaram o conhecimento sobre as doenças infecciosas na Amazônia, o trabalho dos dois e do professor Luís Marcelo, filho mais velho de Erney, resultou também na instalação do ICB5, base que a USP mantém desde 1997 na cidade de Monte Negro, em Rondônia, e que funciona como um núcleo avançado de pesquisa e realiza atendimento gratuito em saúde para a população da região.


No período em que presidiu o CNPq, de 2003 e 2007, Camargo criou o Programa de Cooperação Temática em Matéria de Ciência e Tecnologia (ProÁfrica), que teve cinco editais e financiou quase 200 projetos, e fez vários acordos com países africanos para promover o intercâmbio científico. As colaborações, pesquisas e viagens ao continente africano são lembradas no capítulo.


“Encontros e amigos” destaca o Congresso sobre Pesquisa Básica em Doença de Chagas, lançado em Caxambu em 1974 e o grande valor dado por Camargo em toda a sua vida à amizade. “Sempre preocupado com os colegas. Uma pessoa com quem se podia contar, como amigo, como companheiro. Era fácil depositar inteira confiança e se alinhar com ele, seus projetos e iniciativas”, diz Marcello Barcinski, professor emérito da UFRJ.


“Erney é um personagem que a gente queria ver em toda a espécie humana. Era gentil, alegre, solidário. Um exemplo para quem conviveu com ele e para quem teve o privilégio de conviver mais por serem discípulos”, diz Issac Roitman, professor da UFRJ e da UnB.


No capítulo “Ciência em família”, os quatro filhos, todos cientistas e gestores, falam sobre a importância do pai em suas vidas e carreiras e contam histórias de diversos períodos e locais onde estiveram, como nos Estados Unidos e na França, quando Camargo esteve no Instituto Pasteur.


“Passamos um mês viajando de carro. Meu pai era muito engraçado e, na Rota do Vinho, quis parar em um monte de chateau para provar. Estava muito alegre, de novo com a família reunida e comprou uma caixa em cada lugar que paramos. Depois, quando voltamos para Paris, começaram a chegar caixas que não acabava mais. Ele perguntou: ‘Fui eu que comprei tudo?’. Eu disse que sim e perguntei o que íamos fazer. E ele respondeu: ‘Vamos beber!’”, conta Luís Marcelo.


No capítulo “Fundação Conrado Wessel”, Carlos Vogt e os conselheiros da FCW José Roberto Drugowich de Felício, Vahan Agopyan, Soraya Soubhi Smaili, Rubens Belfort Jr. e Franco Lajolo destacam o papel fundamental de Camargo na recuperação financeira da Fundação, que permitiu retomar os Prêmios FCW além de iniciar novos projetos de apoio à ciência e à cultura brasileiras.


O livro “Coragem! Erney Plessmann de Camargo e o desafio de fazer ciência no Brasil” pode ser baixado livremente em: clique aqui.






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